sábado, 11 de junho de 2016

Falar sozinho.

Os pés balançam sobre nada. Sentado, me seguro na beira do precipício. Sem luz atrás, sem luz a frente, vejo apenas meu corpo neste instante efêmero.

O Vazio a frente me olha. Aquela imensidão, que tão bem me conhece, tem olhos negros de piedade. Ele me diz que quanto mais vazios, mais profundos somos, e mais de toda a criação nós podemos conter.

Eu olho o Vazio a frente. Esta tempestade, que tão bem o conhece, tem olhos negros de fúria. Eu lhe digo que do que os outros criaram pouco se aproveita, que uma cova rasa é o suficiente para se conter tudo o que me interessa.

O Vazio sorri. A piedade de seus olhos se esvai, pois ela era apenas malícia o tempo todo. Ele me diz que nada que existe fora jamais irá me confortar como o que existe dentro. Me diz que Ser é Sofrer, que Existir é se Perder, que me cercar de tudo que não sou Eu é me roubar de minhas maiores dimensões.

Eu sorrio. A fúria em meus olhos se esvai, pois ela  era apenas malícia o tempo todo. Eu lhe digo que nada que existe fora jamais irá afetar o que existe dentro. Lhe digo que Existir não é Ser, e que Sofrer não é Perder, que não é o que me cerca que me define, e sim as minhas maiores dimensões, tão vastas que apenas eu conheço e que nada que não sou eu pode definir.

Nós nos entreolhamos pois sabemos. Sabemos que não existe beira de precipício, que quem Existe fora não é quem nós Somos realmente. Sabemos que não existe um eu e um ele, que nós somos o mesmo, infinito, com espaços se dobrando sobre si mesmos e crescendo internamente, sem acabar nunca mais... E que, do lado de fora, somos apenas um rosto, uma voz sorrindo, uma pessoa que esconde o maior segredo do mundo.

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