sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O meu mundo.

Os ventos em minha alma nunca deixam de soprar;
É o ar de muitas vidas do qual vou me alimentar;
Em cada sopro, a cada arranque, sinto o vento me levando;
E quando sento em meu trono azul-turqueza refulgindo;
Sinto os anjos me olhando, cantando enquanto estou caindo.

É um mundo que me espera, com a morte e meus rivais;
Sem sonhos ou esperanças, aqui não cantam meus pardais;
A cada dia que se passa o meu alívio vai surgindo;
A cada monstro do qual corro meu caminho vai se abrindo;
E então, com um passo em falso, grito enquanto estou caindo.

Paro no vazio, sem ninguém a me olhar;
E os anjos vão embora: Eles não podem mais cantar;
Suas asas brancas cortando o céu vão sumindo;
Mas já é tarde pra notar que você não está caindo.

E você se debate, se contorcendo em desespero;
Tenta fugir de sua casa, correr enquanto está inteiro;
Mas eu sei e não me engano que enquanto estou resistindo;
A corda vai se apertando e vai selando meu destino.

Mas meu mundo é assim mesmo, estranho, não se engane;
Tem belezas que assustam e tem cercas sem arame;
Seja vida, seja morte, seja tudo que se fez;
Se gostou, seja bem-vinda. Se não, olhe outra vez.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Anéis de Fumaça

Eu sou um criador de anéis de fumaça, e insiro neles um tom branco que não existe em mais nada em minha vida. Sou um artista das pérolas mais efêmeras.

Se me deparo com uma pequena brisa, por mais ínfima que seja, eu me torno um nada, um reles alguém sem nenhum talento. Mas ninguém me supera quando não existe movimento.

Minhas obras de arte crescem, se afastam de mim. E somem. Eu lhes dou vida, mas não tenho nenhum controle sobre elas depois que deixam meus lábios. São como palavras sem registro, e sua beleza só pode ser capturada em lembranças. Eu não sou um artista do concreto e de nada palpável.

Minha obra prima, em alguns segundos, não existirá mais.

E na madrepérola de meus anéis eu vejo todos os rostos passarem. Rostos que eu feri e sacrifiquei, mais do que a minha arte fere e sacrifica a mim mesmo.

A todos esses rostos, eu quero pedir desculpas, e eu faço questão de lembrar seus nomes antes do vento os dissipar. E tento sentir suas dores... As dores que eu causei.

Mas eu sou um artista, e preciso de mais rostos e histórias para minhas criações. A cada novo dia, eu tenho uma nova vítima. E uma nova culpa. Peço para que não se movam pois, como um pintor, preciso capturar um breve momento... E a menor brisa pode me deixar sem nenhum talento.

E meu sopro, minhas palavras são um veneno para mim. Meus pulmões se tornam negros, mas minhas obras serão sempre brancas.

Elas são todas mentiras.

Em alguns minutos, não saberei mais se são um delírio ou uma lembrança. Não posso tomar crédito ou provar que existiram. São apenas mais rostos tristes em minha cabeça. E eles fazem meus olhos arderem e deixam em minha boca um gosto ruim, amargo...

Mas anéis de fumaça são tudo o que eu sei fazer. Um monumento ao que não sobrevive ao movimento. Algo que nunca existiu.

Então, me desculpem, e não me culpem. Eu não sou um monstro feito de pedra ou um demônio com entranhas de fogo. Eu sou apenas um artista sem uma obra para mostrar. Só um criador de anéis de fumaça.