domingo, 17 de abril de 2005

Antigas Escrituras #7

De uma decisão passada até um arrependimento presente existe tanta distância quanto o ontem tem do hoje. Uma dor, um sentimento de culpa, aflora no momento em que tudo é absolutamente irremediável. O purgatório é aqui, junto com o inferno, enquanto o céu só existe quando você não o busca.

Me desculpe por ser assim, tão alienado, tão absorto em mim mesmo. Talvez você me veja como um poço infinito de preconceitos, de mentiras e hipocrisias, mas não é assim. Eu me esforço, tento fazer meu melhor... Mas existem horas em que isso não é o bastante! E que culpa tenho eu?! Eu posso ser acusado de egoísta, medroso e cego, mas também não seja tão rígida assim! Todos são diferentes, ainda bem! Quem sabe um novo ciclo não te ajudará?

Eu não vou conseguir dormir mesmo. Fico aqui, suando e bebendo e pensando que agora é tarde demais. Pensando que, se tudo ocorresse de novo, eu não faria diferente. Pq eu não tinha escolha, entenda, são coisas mais fortes que minha simples existência. São experiências passadas tão minhas que não usarei para me salvar... E elas teriam esse poder...

Que assim fique, então... Mas que fique registrado que não era essa minha vontade!

sexta-feira, 15 de abril de 2005

Antigas Escrituras #6

Esquizofrenia. É tudo em que o mundo resulta. O resultado último do crescimento do ser, da quebra dos laços do coletivo para que o individual possa crescer e se tornar suficiente... Mas ele não sabe disso, por nunca ter sido nada diferente de individual... Ele é aquele que representa ao Todo e, por isso mesmo, sem semelhantes.

Conforme Lord Gabe MacArthur caminha no leito profundo do mar, a poeira da lama cobrindo suas pegadas, as sombras rodam e formam imagens na água. Pessoas, lugares, tempos diversos e tão frívolos quanto os reais: com apenas um gesto, ele dissolve as aparições num redemoinho gélido.

Está tão profundo que não existe vida ali. A pressão é constante, assassina, e o frio vence a chama de qualquer existência. Um lugar jamais tocado pela luz, sem cor ou som. Seria esse o fundo do mar ou apenas um retrato de seu interior? Uma pergunta tola que ele se faz... Mas ele não se permite pensar sobre si mesmo. Isso só faz aumentar o desgosto pela sua existência onírica e desejar mais ainda a sazonalidade do mundo. Enquanto o Universo que ele encarna persegue a eternidade, ele apenas quer um fim para tudo! Quanto mais ele pensa sobre si mesmo, mais transtorno esse paradoxo gera...

A verdade, porém, cruza sua mente como as pedras afiadas do solo cortariam seus pés, caso não se despedaçassem antes dele tocá-los: O Universo busca a eternidade, mas ele já é eterno... Ele não representa o Todo, ele está além disso, muito além. Ele é o vazio que fica quando o objetivo é conquistado e a dor de perceber que não era exatamente aquilo que deveria ser buscado. Ele é o sucesso, o ápice de tudo aquilo que a humanidade nem consegue imaginar. Enquanto eles buscam o Eterno ele já conquistou o Eterno, o Perfeito e o Infinito. Os três tesouros que a humanidade jamais terá, que ela busca eternamente e que de nada lhe servirão. Os três castigos que o torturam, que não se pode abandonar e que são a razão de sua existência.

Ele representa o Todo como sendo seu exato oposto... A resposta final para tantos séculos de dúvida!

Conforme a água ferve e ele voa em direção ao céu, sobra no leito do mar uma nova questão: Se o Todo é absoluto e a tudo engloba, o que resta fora dele para ser seu Oposto? Nós não saberemos a resposta, ela está no Infinito que não podemos compreender. Lord Gabe, porém, não apenas sabe a resposta. Ele é a resposta...